OS MEUS AMIGOS
Amigos, cento e dez e talvez mais
Eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Pensei que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais
Amigos, cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu, já farto de os ver, me escapolia,
Às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente:
Ceguei. Dos cento e dez, houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.
“Que vamos lá – diziam – lá fazer?
Se ele está cego não nos pode ver...”
Que cento e nove impávidos marotos!
Camilo Castelo Branco
Nasceu em 1825 em Lisboa e suicidou-se
A 1 de Junho de 1890 em S. Miguel de Ceide
(Famalicão)
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