A Captura e a
Morte
Às cinco da
tarde.
Eram cinco da
tarde em ponto.
Um menino trouxe
o branco lençol
às cinco horas
da tarde.
Uma esporta de
cal já prevenida
às cinco horas
da tarde.
O mais era morte
e somente morte
às cinco horas
da tarde.
O vento levou os algodões
às cinco horas
da tarde.
E o óxido semeou
cristal e níquel
às cinco horas
da tarde.
Já lutam a pomba
e o leopardo
às cinco horas
da tarde.
E uma coxa para
um chifre destroçada
Às cinco horas
da tarde.
Começaram os
sons do bordão
às cinco horas
da tarde.
Os sinos de
arsénico e a fumaça
às cinco horas
da tarde.
Nas esquinas
grupos de silêncio
às cinco horas
da tarde.
E o touro com
todo o coração para a frente!
às cinco horas
da tarde.
Quando o suor de
neve foi chegando
às cinco horas
da tarde,
quando a praça
se cobriu de iodo
às cinco horas
da tarde,
a morte botou
ovos na ferida
às cinco horas
da tarde.
As cinco horas
da tarde,
Ás cinco em
ponto da tarde
Um
ataúde com rodas é a cama
às cinco horas
da tarde.
Ossos e flautas
soam-lhe ao ouvido
às cinco horas
da tarde.
Por sua frente
já mugia o touro
às cinco horas
da tarde.
O quarto se
irisava de agonia
às cinco horas
da tarde.
De longe já se
aproxima a gangrena
às cinco horas
da tarde.
Trompa de lírio
pelas verdes virilhas
às cinco horas
da tarde.
As feridas
queimavam como sóis
às cinco horas
da tarde,
e as pessoas
quebravam as janelas
às cinco horas
da tarde.
Às cinco horas
da tarde.
Ai que terríveis
cinco horas da tarde!
Eram cinco horas
em todos os relógios!
Eram cinco horas
da tarde em sombra!
Federico Garcia
Lorca
1898 - 1936
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